Se você não conhece- veja alguns na foto aí em cima
Todo inverno é assim. Do meio de
onde nada foi semeado, onde nenhuma semente foi plantada, de lá mesmo eles
surgem, primeiro com suas folhas tenras e um odor característico, aliás da
planta de onde eles frutificam se solta um tipo de perfume característico,
sempre verdinha de um verde também peculiar, e quando menos se espera, da mesma
forma como elas foram brotando pelo chão, agora são exibidas minúsculas flores
amarelas. Acho que o pequeno tomateiro é uma espécie de propagandeador do
pavilhão nacional, e antes de nos brindar com seus frutos, exibe o verde-louro
dessa nossa flâmula.
É uma dessas pequenas maravilhas de se morar no subúrbio,
sempre tivemos quintal e meu pai sempre o aproveitou. Antes dessa onda de
alimentos orgânicos lá em casa sempre nos alimentamos com bertalhas, taiobas, carurus,
milhos, aimpins, tomates, quiabos, pimentões, batatas-doces, salsas,
cebolinhas, isso sem falar dos maracujás, goiabas, mangas e outras tantas
maravilhas da terra. Mas no meio de tantas plantações nos invernos ele sempre
aparecia: o tomatinho miúdo (isso não seria um pleonasmo? Se é chamado de tomatinho
é pelo seu tamanho menor do que o normal, ou seja: miúdo. Mas não vou me ater aos meandros da língua materna.)
Amigo inseparável da carne-seca, com
seu vermelho vivo logo se destaca no prato, de um sabor ácido que lhe confere
um “azedinho” característico, o tomate é pequeno mas cheio de personalidade.
Ele surpreende pela sua parceria quase improvável com um bom peixe frito com
molho – caramba só agora me dei conta de há quanto tempo não como um bom peixe
frito com molho, que a minha mãe faz.
Agora estou ficando velho, ainda não
tenho filhos, ainda não ensinei ninguém a plantar, nem mostrei os mistérios
inquestionáveis dos tomatinhos miúdos, mas aqui em casa já tenho uma goiabeira,
uma amoreira, uma aceroleira e um pé de ingá. Já colhi batatas-doces plantadas
pelo seu Nilson e também aimpins. Nesse inverno mais uma vez, colhi os tais
tomatinhos, não os plantei, aliás como nunca os plantei. Setembro está indo
embora e com ele se vão os miúdos.
Os miúdos em frente (à esquerda) e verso (à direita)
Nem sempre eu notei ou valorizei
esses pequenos milagres, eles acontecem todos os dias. É o sussuro da voz de
Deus que fala até mesmo através do tomatinho miúdo, nos ensinando sobre o ciclo
da vida.
André Rangel não possui nenhum latifúndio no Goiás mas ainda
assiste ao Globo Rural todos os domingos pela manhã.
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