segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Tomatinhos Miúdos

Se você não conhece- veja alguns na foto aí em cima

Todo inverno é assim. Do meio de onde nada foi semeado, onde nenhuma semente foi plantada, de lá mesmo eles surgem, primeiro com suas folhas tenras e um odor característico, aliás da planta de onde eles frutificam se solta um tipo de perfume característico, sempre verdinha de um verde também peculiar, e quando menos se espera, da mesma forma como elas foram brotando pelo chão, agora são exibidas minúsculas flores amarelas. Acho que o pequeno tomateiro é uma espécie de propagandeador do pavilhão nacional, e antes de nos brindar com seus frutos, exibe o verde-louro dessa nossa flâmula.

Lá em casa desde muito cedo, meu pai sempre plantou.
É uma dessas pequenas maravilhas de se morar no subúrbio, sempre tivemos quintal e meu pai sempre o aproveitou. Antes dessa onda de alimentos orgânicos lá em casa sempre nos alimentamos com bertalhas, taiobas, carurus, milhos, aimpins, tomates, quiabos, pimentões, batatas-doces, salsas, cebolinhas, isso sem falar dos maracujás, goiabas, mangas e outras tantas maravilhas da terra. Mas no meio de tantas plantações nos invernos ele sempre aparecia: o tomatinho miúdo (isso não seria um pleonasmo? Se é chamado de tomatinho é pelo seu tamanho menor do que o normal, ou seja: miúdo. Mas não vou me ater aos meandros da língua materna.)
Amigo inseparável da carne-seca, com seu vermelho vivo logo se destaca no prato, de um sabor ácido que lhe confere um “azedinho” característico, o tomate é pequeno mas cheio de personalidade. Ele surpreende pela sua parceria quase improvável com um bom peixe frito com molho – caramba só agora me dei conta de há quanto tempo não como um bom peixe frito com molho, que a minha mãe faz.

Agora estou ficando velho, ainda não tenho filhos, ainda não ensinei ninguém a plantar, nem mostrei os mistérios inquestionáveis dos tomatinhos miúdos, mas aqui em casa já tenho uma goiabeira, uma amoreira, uma aceroleira e um pé de ingá. Já colhi batatas-doces plantadas pelo seu Nilson e também aimpins. Nesse inverno mais uma vez, colhi os tais tomatinhos, não os plantei, aliás como nunca os plantei. Setembro está indo embora e com ele se vão os miúdos.

Os miúdos em frente (à esquerda) e verso (à direita)

Nem sempre eu notei ou valorizei esses pequenos milagres, eles acontecem todos os dias. É o sussuro da voz de Deus que fala até mesmo através do tomatinho miúdo, nos ensinando sobre o ciclo da vida.


André Rangel não possui nenhum latifúndio no Goiás mas ainda assiste ao Globo Rural todos os domingos pela manhã.  

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