Já estava mais velho do que imaginei estar quando tivesse
meu primeiro filho. Na minha adolescência sonhava ser pai jovem – já que quando
nasci meu pai estava com 36 e eu não desejava isso para mim e nem para meu
filho ou filha (ou quem sabe filhos). Mas apesar de toda a confusão de minha
vida amorosa, não foi esse o destino que Deus me traçou.
Havia poucos meses desde que o Sr. Nilson, pai da Shirley,
falecera e também poucos meses desde que a Suellen, esposa do Wanderson – seu irmão
- havia descoberto estar grávida. Portanto caso a gravidez fosse confirmada, a
minha sobrinha Maria Luiza, já teria companhia para suas brincadeiras. À essa
altura já sabíamos que se tratava de uma menina e o jovem casal também já havia
definido o nome.
Estava eufórico e com medo. Apesar de tudo ainda não me
sentia completamente preparado para ser pai. Duvidava das condições psicológicas
q teria para tanto, para tudo o que isso implicaria. Orava a Deus e pedia
forças. Estava nervoso mas não podia demonstrar.
Chegamos ao hospital onde o exame seria realizado. E
esperamos como qualquer pessoa. Havia muitas grávidas. A ansiedade me fez perder
a noção do tempo de espera. Não sei afirmar quanto tempo realmente se passou.
Após os aprontos e já dentro da sala dos exames não sabia
como me comportar. Onde colocar a mochila, se era possível gravar ou tirar
fotos, se podia falar ou não. Me senti imperfeito para a situação. Ao iniciar a
ultrassonografia não conseguia desgrudar os olhos da tela, enquanto a medica
fazia manobras por dentro da Shirley, quase tive uma síncope quando em meio a
imagens desconexas consegui vislumbrar um pequeno saco gestacional.
Ela realmente estava grávida.
A comprovação cabal viria a seguir. Dentro daquela incrível engenhoca
capaz de enxergar por dentro das pessoas, havia mais uma função: ouvir o
pequeno coração que – segundo a médica – já estava se formando e batendo no
peito do feto na barriga da Shirley.
O milagre da vida estava ocorrendo diante dos meus olhos.
Como o salmista que disse: Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de
minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável.
Tuas obras são maravilhosas! Disso tenho plena certeza. Meus ossos não
estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas
profundezas da terra.” - Salmos
139:13-15
E assim, pela primeira vez pude ver nos gráficos, o
coraçãozinho da minha Andressa batendo, aceleradamente aos 140 BPM, anunciando
ao mundo sua vida e sua vinda. Mudando completamente minha vida. Como na música
“Dias de Luta” - do Ira! - que diz: “se
meu filho nem nasceu / eu ainda sou um filho ...” a partir daquele momento
minha vida mudou, embora já não pudesse me considerar um pai, certamente já não
era somente um filho. Ainda nem tinha visto a Andressa mas já a amava
profundamente, mais do que a mim mesmo.
Dedessa, seu papai te ama!
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