segunda-feira, 14 de setembro de 2015

140 BPM


Isso aconteceu há mais ou menos um ano atrás. Mais de um ano na verdade. Foi a primeira vez em que fui com a Shirley para fazer ultrassonografia. Seria a confirmação inequívoca de que ela estaria grávida.

Já estava mais velho do que imaginei estar quando tivesse meu primeiro filho. Na minha adolescência sonhava ser pai jovem – já que quando nasci meu pai estava com 36 e eu não desejava isso para mim e nem para meu filho ou filha (ou quem sabe filhos). Mas apesar de toda a confusão de minha vida amorosa, não foi esse o destino que Deus me traçou.

Havia poucos meses desde que o Sr. Nilson, pai da Shirley, falecera e também poucos meses desde que a Suellen, esposa do Wanderson – seu irmão - havia descoberto estar grávida.  Portanto caso a gravidez fosse confirmada, a minha sobrinha Maria Luiza, já teria companhia para suas brincadeiras. À essa altura já sabíamos que se tratava de uma menina e o jovem casal também já havia definido o nome.

Estava eufórico e com medo. Apesar de tudo ainda não me sentia completamente preparado para ser pai. Duvidava das condições psicológicas q teria para tanto, para tudo o que isso implicaria. Orava a Deus e pedia forças. Estava nervoso mas não podia demonstrar.

Chegamos ao hospital onde o exame seria realizado. E esperamos como qualquer pessoa. Havia muitas grávidas. A ansiedade me fez perder a noção do tempo de espera. Não sei afirmar quanto tempo realmente se passou.

Após os aprontos e já dentro da sala dos exames não sabia como me comportar. Onde colocar a mochila, se era possível gravar ou tirar fotos, se podia falar ou não. Me senti imperfeito para a situação. Ao iniciar a ultrassonografia não conseguia desgrudar os olhos da tela, enquanto a medica fazia manobras por dentro da Shirley, quase tive uma síncope quando em meio a imagens desconexas consegui vislumbrar um pequeno saco gestacional.

Ela realmente estava grávida.

A comprovação cabal viria a seguir. Dentro daquela incrível engenhoca capaz de enxergar por dentro das pessoas, havia mais uma função: ouvir o pequeno coração que – segundo a médica – já estava se formando e batendo no peito do feto na barriga da Shirley.

O milagre da vida estava ocorrendo diante dos meus olhos. Como o salmista que disse: Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Disso tenho plena certeza. Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra.” - Salmos 139:13-15



E assim, pela primeira vez pude ver nos gráficos, o coraçãozinho da minha Andressa batendo, aceleradamente aos 140 BPM, anunciando ao mundo sua vida e sua vinda. Mudando completamente minha vida. Como na música “Dias de Luta” -  do Ira! - que diz: “se meu filho nem nasceu / eu ainda sou um filho ...” a partir daquele momento minha vida mudou, embora já não pudesse me considerar um pai, certamente já não era somente um filho. Ainda nem tinha visto a Andressa mas já a amava profundamente, mais do que a mim mesmo.

Dedessa, seu papai te ama!

Nenhum comentário: