Não temos controle sobre os
acontecimentos que influenciam a nossa vida. Incidentes, acidentes, chuvas,
terremotos e todos os demais fenômenos afins nos atingem todos os dias e por
mais poderosos, inteligentes, ricos, bonitos, famosos e influentes pensamos ser
não podemos segurar os ventos, dar ordens à enorme massa de água dos oceanos ou
apenas impedir uma flor de se murchar. As coisas seguem seu curso natural.
Agora me vem à cabeça a dolorosa
agonia dos homens condenados à morte. A tortura de estar no corredor da morte,
um lugar onde existe de tudo um pouco, há dor, remorso, dúvida, loucura, obsessão
e só não existe esperança. Ao imaginar o terror da espera passiva pelo
cumprimento da pena me espanta a não reatividade dos que estão nessa situação.
Essa inércia seria fruto da ausência de motivação? Da morte da esperança? Da
aceitação? Do remorso? Da culpa? Eu sei que são muitas perguntas. E com
certeza, não tenho as respostas.
Os cientistas afirmam que o homem
é o único animal que tem consciência da finitude da vida. Apesar disso ainda
tentamos nos iludir com falsas intenções de controle, com falsos adiamentos,
alimentações livres de colesterol, sem gorduras trans, com total ausência de glúten
e com isso ganhamos menos peso e em tese acumulamos alguns anos à vida. Mas o
que impediria os acidentes e acidentes?
Que força seria capaz de nos livrar da fúria da natureza tão agredida
pela humanidade? Ou do calor do sol? Ou de misturar manga com leite?
Quando eu era criança o grande
monstro comedor de vida e de tempo da humanidade atendia pelo nome de
televisão, com seus raios azulados provenientes de uma caixa mágica que sugava
o ânimo dos incautos. Agora sou devorado por monstros menores e mais eficazes:
tablets, celulares e notebooks conectados à internet. Hoje as 24 horas do dia
não são suficientes para que eu faça tudo o que eu desejo fazer ou tudo o que
as pessoas desejam que eu faça. Já não está claro pra mim se a tecnologia me
serve ou se eu me tornei servo dela. Minha vida se esvai rapidamente pelo ralo
dos facebooks, whatsapps, e-mails, games e afins. Com a mesma passividade dos condenados
eu assisto a tudo. A impressão que tenho e a de que sou expectador da minha
própria vida. Quando eu não a conto através das redes sociais outros a contam
com suas impressões, suas fotos em que sou marcado, seus comentários. Parece
que perdi minha oportunidade de protagonizar minha biografia.
Eu sou cristão e acredito que o
único capaz de controlar a natureza, os acidentes e incidentes é Deus, também
acredito que tudo o que acontece está debaixo da sua permissão. Existe um
princípio instituído por Deus que chamamos lei da semeadura: “o que o homem
plantar, isso também colherá”, é impossível para quem planta batatas colher
feijões. O meu futuro? Está nas mãos de Deus. O que vou fazer da minha vida e
como vou aproveitar meu tempo essas são responsabilidades minhas. Não posso
desperdiçar minha vida e depois culpar a quem quer que seja. Quero reaprender a
viver e a dar valor ao que é importante.
A vida é muito curta. E ao
contrário do que possa parecer eu não desejo a aterrorizante calma que se
apresenta diante de todos os inevitáveis. Quero estar consciente e valorizar
tudo.
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