segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A vida ou A aterrorizante calma que se apresenta diante do inevitável


Não temos controle sobre os acontecimentos que influenciam a nossa vida. Incidentes, acidentes, chuvas, terremotos e todos os demais fenômenos afins nos atingem todos os dias e por mais poderosos, inteligentes, ricos, bonitos, famosos e influentes pensamos ser não podemos segurar os ventos, dar ordens à enorme massa de água dos oceanos ou apenas impedir uma flor de se murchar. As coisas seguem seu curso natural.

Agora me vem à cabeça a dolorosa agonia dos homens condenados à morte. A tortura de estar no corredor da morte, um lugar onde existe de tudo um pouco, há dor, remorso, dúvida, loucura, obsessão e só não existe esperança. Ao imaginar o terror da espera passiva pelo cumprimento da pena me espanta a não reatividade dos que estão nessa situação. Essa inércia seria fruto da ausência de motivação? Da morte da esperança? Da aceitação? Do remorso? Da culpa? Eu sei que são muitas perguntas. E com certeza, não tenho as respostas.

Os cientistas afirmam que o homem é o único animal que tem consciência da finitude da vida. Apesar disso ainda tentamos nos iludir com falsas intenções de controle, com falsos adiamentos, alimentações livres de colesterol, sem gorduras trans, com total ausência de glúten e com isso ganhamos menos peso e em tese acumulamos alguns anos à vida. Mas o que impediria os acidentes e acidentes?  Que força seria capaz de nos livrar da fúria da natureza tão agredida pela humanidade? Ou do calor do sol? Ou de misturar manga com leite?

Quando eu era criança o grande monstro comedor de vida e de tempo da humanidade atendia pelo nome de televisão, com seus raios azulados provenientes de uma caixa mágica que sugava o ânimo dos incautos. Agora sou devorado por monstros menores e mais eficazes: tablets, celulares e notebooks conectados à internet. Hoje as 24 horas do dia não são suficientes para que eu faça tudo o que eu desejo fazer ou tudo o que as pessoas desejam que eu faça. Já não está claro pra mim se a tecnologia me serve ou se eu me tornei servo dela. Minha vida se esvai rapidamente pelo ralo dos facebooks, whatsapps, e-mails, games e afins. Com a mesma passividade dos condenados eu assisto a tudo. A impressão que tenho e a de que sou expectador da minha própria vida. Quando eu não a conto através das redes sociais outros a contam com suas impressões, suas fotos em que sou marcado, seus comentários. Parece que perdi minha oportunidade de protagonizar minha biografia.

Eu sou cristão e acredito que o único capaz de controlar a natureza, os acidentes e incidentes é Deus, também acredito que tudo o que acontece está debaixo da sua permissão. Existe um princípio instituído por Deus que chamamos lei da semeadura: “o que o homem plantar, isso também colherá”, é impossível para quem planta batatas colher feijões. O meu futuro? Está nas mãos de Deus. O que vou fazer da minha vida e como vou aproveitar meu tempo essas são responsabilidades minhas. Não posso desperdiçar minha vida e depois culpar a quem quer que seja. Quero reaprender a viver e a dar valor ao que é importante.

A vida é muito curta. E ao contrário do que possa parecer eu não desejo a aterrorizante calma que se apresenta diante de todos os inevitáveis. Quero estar consciente e valorizar tudo.

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