Quando comprei o terreno em que
hoje está construída a minha casa, haviam três tipos de árvores frutíferas:
bananeiras ao fundo, à frente de onde hoje é a varanda da casa uma árvore de graviola
e onde hoje fica a janela do meu quarto havia uma goiabeira.
Uma árvore imponente dentro de
sua simplicidade, fornecia sombra nos dias quentes e muitas goiabas vermelhas e
doces nos meses de verão, livres de bichos e em grande quantidade, o que seria
uma de suas maiores virtudes.
Infelizmente em dezembro de 2013
percebi algo diferente, a minha velha amiga goiabeira, que abrigava muitos
ninhos de pássaros, e que embalava minhas tardes melancólicas nas quais minha
mente vagava por entre as suas milhares de folhas, havia sido infestada por
cupins. Até então eu ignorava que a praga dos cupins pudesse infestar uma
árvore viva e pujante.
Desde então tentei algumas vezes
matar os cupins mas tive medo de que as minhas investidas viessem a infectar
seus frutos, envenenando aqueles que desfrutassem de suas rubras goiabas.
A partir destas investidas
percebi que meus esforços seriam em vão, e que em pouco tempo ela acabaria
cedendo ao seu próprio peso, caindo. Há três dias houve um forte temporal aqui
em São Gonçalo, esta tormenta acompanhada de fortes ventos, me fez lembrar da
enorme ferida causada no tronco da velha goiabeira. E que ela poderia sucumbir
à essa força, caindo sobre a janela, ou sobre a calçada atingindo a rede
elétrica, derrubando o aparelho de ar-condicionado, causando danos à parede do
quarto.
A chegada da minha filhinha, em
breve, acelerou minha decisão de abreviar a vida da goiabeira. Uma árvore como
uma metáfora da vida, eu quis poupa-la até o último momento mas mantê-la representou uma ameaça à minha própria existência, o doce sabor
de seus frutos me iludiu, me corrompeu, me entorpeceu a ponto de me impedir
de ver como o buraco em seu tronco aumentava. Me manter em minha zona de
conforto debaixo de sua sombra colhedora, comendo suas goiabas e ignorando o
perigo me pareceu uma ideia muito mais interessante do que resolver o problema.
Durante mais de uma ano eu simplesmente protelei o fim já decretado da
goiabeira.
Penso na minha vida em várias
goiabeiras que eu não cortei por pena e que hoje representam riscos reais à
minha existência. Um hino antigo do cantor cristão diz “passarinhos, belas
flores querem me encantar ...” essas minhas goiabeiras cheias de cupins da
minha vida, devem ser arrancadas, só me falta a coragem.
Andre Rangel gosta de goiaba, por ser goncalense pode ser chamado de "papa-goiaba" e por sua natureza pode ser considerado um "zé-goiaba".
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