terça-feira, 13 de outubro de 2015

A goiabeira e a vida

Quando comprei o terreno em que hoje está construída a minha casa, haviam três tipos de árvores frutíferas: bananeiras ao fundo, à frente de onde hoje é a varanda da casa uma árvore de graviola e onde hoje fica a janela do meu quarto havia uma goiabeira.
Uma árvore imponente dentro de sua simplicidade, fornecia sombra nos dias quentes e muitas goiabas vermelhas e doces nos meses de verão, livres de bichos e em grande quantidade, o que seria uma de suas maiores virtudes.
Infelizmente em dezembro de 2013 percebi algo diferente, a minha velha amiga goiabeira, que abrigava muitos ninhos de pássaros, e que embalava minhas tardes melancólicas nas quais minha mente vagava por entre as suas milhares de folhas, havia sido infestada por cupins. Até então eu ignorava que a praga dos cupins pudesse infestar uma árvore viva e pujante.

Desde então tentei algumas vezes matar os cupins mas tive medo de que as minhas investidas viessem a infectar seus frutos, envenenando aqueles que desfrutassem de suas rubras goiabas.
A partir destas investidas percebi que meus esforços seriam em vão, e que em pouco tempo ela acabaria cedendo ao seu próprio peso, caindo. Há três dias houve um forte temporal aqui em São Gonçalo, esta tormenta acompanhada de fortes ventos, me fez lembrar da enorme ferida causada no tronco da velha goiabeira. E que ela poderia sucumbir à essa força, caindo sobre a janela, ou sobre a calçada atingindo a rede elétrica, derrubando o aparelho de ar-condicionado, causando danos à parede do quarto.
A chegada da minha filhinha, em breve, acelerou minha decisão de abreviar a vida da goiabeira. Uma árvore como uma metáfora da vida, eu quis poupa-la até o último momento mas mantê-la representou uma ameaça à minha própria existência, o doce sabor de seus frutos me iludiu, me corrompeu, me entorpeceu a ponto de me impedir de ver como o buraco em seu tronco aumentava. Me manter em minha zona de conforto debaixo de sua sombra colhedora, comendo suas goiabas e ignorando o perigo me pareceu uma ideia muito mais interessante do que resolver o problema. Durante mais de uma ano eu simplesmente protelei o fim já decretado da goiabeira.

Penso na minha vida em várias goiabeiras que eu não cortei por pena e que hoje representam riscos reais à minha existência. Um hino antigo do cantor cristão diz “passarinhos, belas flores querem me encantar ...” essas minhas goiabeiras cheias de cupins da minha vida, devem ser arrancadas, só me falta a coragem.

Andre Rangel gosta de goiaba, por ser goncalense pode ser chamado de "papa-goiaba" e por sua natureza pode ser considerado um "zé-goiaba".

Nenhum comentário: